quinta-feira, 17 de março de 2011

Texto sem titulo


Abominável seria a palavra para descrever o que se via ali, assim em plena luz do dia, como tinham coragem de tal ato de libertinagem, devassidão. Onde esta o pudor dessa gente, a moral, a vergonha na cara e onde esta a policia para dar fim a isso? Eram os pensamentos de Dona Conciliadora, a Dona Dora como era conhecida na vizinhança.

Uma senhora solteirona beirando já os oitenta anos, que vivia a rezar e censurar as crianças e os jovens por suas atitudes, pelo jeito que se vestir, se portar e pelo jeito que eles falavam. Dona Dora sentia saudade do tempo da ditadura, suspirava e se abanava e pedia perdão pelos pensamentos pecaminosos que tinha ao ver o Collor na TV, que chorou e esbravejou e rogou praga contra os caras pintadas. Talvez daí viesse seu ódio pelos jovens. Acima de tudo Dona Dora era uma velha amargurada como todas as mulheres que ficam solteironas e pra titias tornam-se com o passar dos anos principalmente com a chegada da menopausa.

Dona Dora estava embasbacada com a cena que estava vendo, dois homens se beijando na rua em pleno dia. Claro que ela sabia da existência dos homossexuais o problema é que ela nunca tinha visto cena igual e, além disso, para ela o homossexualismo era uma praga das grandes cidades que ia ser varrida por deus através da AIDS. Mas o problema maior era a complacência das demais pessoas que passavam pela rua e viam os rapazes ali abraçando trocando beijos intensos, que simplesmente olhavam e seguiam suas vidas como se fosse normal. O que de fato é, menos é claro para uma senhora como Dona Dora.

Como pode ninguém tomar uma atitude contra essa pouca vergonha, o mundo esta perdido, são todos uns pecadores, pederastas, devassos, libertinos, impuros, tarados e doentes, vão todos para o infernos arder no colo de Satanás, onde esse mundo vai parar meu deus? Pensava Dona Dora, quase tendo um ataque do coração.

Não agüentou mais e gritou contra o casal apaixonado – seus depravados, sem vergonha, pederastas, libertinos, devassos, pecadores vão arder no fogo do inferno, sem a piedade divina. Essas eram as palavras favoritas de Dona Dora. Os dois rapazes pararam de se beijar e um deles olhou e disse – minha senhora, acorde! Não estamos mais no século 19. E como se nada tivesse acontecido virou-se abraçou seu amado com força e voltaram a beijar-se apaixonadamente. Inconformada com a situação Dona Dora entrou em casa o mais depressa que conseguira pegou o telefone e ligou 190, contou todos os detalhes do que se passava na calçada em frente a sua casa. E ouviu do outro lado da linha alguém segurando o riso dizer que – infelizmente não poderia fazer nada para ajudar, pois aquilo não era crime a não ser que estivessem nus ou então praticando sexo.

Depois disso, Dona Dora se trancou no quarto agarrada a bíblia e ao rosário e começou a rezar e prometer pra ela mesma e pra deus que nunca mais colocaria o nariz para fora, de modo que não se contaminasse com o pecado que estava poluindo o mundo. Agradecia também por nunca ter caído em tentação em sua vida e ainda ser pura e intocada pelas mãos de um homem. E assim passou os dias esperando o dia em que daria de presente sua virgindade ao senhor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário